É hora de se dar valor ao que realmente importa.

Em tempos de COVID 19 diariamente ouvimos manifestações exaltando o trabalho de médicos, enfermeiros e outros profissionais ligados à área de saúde.
Os elogios vão desde aplausos na janela em várias cidades do país a declarações emocionadas de políticos de todas as esferas.
Como médico já com vinte e cinco anos de formação entendo que tenho o direito de opinar.
Não me considero herói por trabalhar e fazer o que gosto. Tenho certeza que a grande maioria dos meus colegas pensa o mesmo. Somos treinados para isso. E muito bem treinados. São seis anos de faculdade e normalmente cinco de residência. Desde o quinto ano de faculdade já existem plantões e a jornada semanal de trabalho as vezes chega a setenta, oitenta horas.
Depois da residência não melhora muito. Salários ruins fazem o médico ter vários empregos.
Isso acontece também com outros "heróis".
Enfermeiros, auxiliares de enfermagem, técnicos, todos trabalham em vários lugares para sustentar a família.
Fora da área da saúde, policiais, bombeiros e professores seguem a mesma sina.
Todos que trabalham nas categorias citadas ficam orgulhosos com os aplausos na janela, mas e quando isso tudo terminar?
O que realmente importa para médicos, enfermeiros, policiais, professores é a valorização do seu trabalho com salários adequados ao serviço essencial que prestam.
Ao invés de discursos emocionados de políticos, queremos que o dinheiro que pagamos em impostos sejam revertidos para as áreas de saúde, educação e segurança, mas sem ter que ouvir que isso é um gasto. Queremos uma política pública que invista nessas áreas com planejamento e objetivos definidos.
Temos que priorizar a pesquisa nas mais diversas áreas. Chega de economistas definindo o que é ou não é importante, ou preocupados com o "mercado".  Temos que fazer planos a longo prazo, ter metas bem definidas.
Precisamos definir prioridades. Estamos há um mês sem futebol. Sinto falta como todo brasileiro do futebol às quartas e domingos. Porém, sobrevive-se sem futebol. Mas a falta de vacina mata. Faz algum sentido pagar quinhentos mil por mês para um jogador de futebol mediano e quinze mil por mês para um professor titular com mestrado, doutorado e dedicação exclusiva numa universidade pública ?
A hora é agora. Ninguém sabe qual será a taxa de letalidade do próximo vírus que aparecer. 

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